terça-feira, 29 de maio de 2012

Coluna Warm Up, por Flavio Gomes: campeonato de sonhos

Acho que ainda não rabisquei nada sobre este campeonato incrível em que todo mundo ganha corrida. Ainda é tempo. Pode ser que domingo acabe a festa estatística, que uma hora vai mesmo terminar. Afinal, são só 12 equipes. Cedo ou tarde, alguma delas ganha pela segunda vez.

Mas ainda há duas chances de ampliação desse recorde de diversidade, com a Lotus e a Sauber, entre as equipes capazes de vencer corridas. Não seria absurdo nenhum Raikkonen ou Grosjean em Mônaco e Pérez ou Kobayashi no Canadá. São provas meio malucas, às vezes, embora em Monte Carlo, nos últimos anos, as surpresas tenham sido raras. Normalmente chega em primeiro aquele que larga em primeiro. Por isso, uma chuvinha seria bem-vinda. Já em Montreal, depois que Button saiu de quase último para primeirão a, sei lá, umas dez voltas do fim no ano passado, acredito em qualquer coisa.

A F-1, que a gente costuma xingar bastante, tem se esforçado para melhorar, isso não se pode negar. Pode-se gostar ou não das muitas mudanças de regulamento levadas a cabo nos últimos anos, mas é preciso reconhecer que na maioria das vezes a intenção é boa. Contra o samba de uma nota só de Schumacher, naqueles anos meio cansativos de Ferrari, mudaram a pontuação e acabaram com a troca de pneus. Quando a Brawn ameaçou virar o mundo de cabeça para baixo com seu difusor duplo, proibiram. O mesmo com os difusores soprados (ô nome feio) da Red Bull no ano passado. E se aparecer alguém com mais algum truque, neguinho corta as asinhas numa canetada.

É verdade que na maioria dos casos essas medidas podem ser interpretadas como repressão à criatividade dos engenheiros e projetistas, mas olhando para o esporte pelo ponto de vista do público, azar dos projetistas e engenheiros. É disso que o povo gosta. Faz-se aquilo que no futebol já não ocorre, com o abismo de verba entre os clubes mais populares, eleitos pelas emissoras de TV que pagam as contas (isso no mundo todo, com algumas exceções), crescendo a cada ano. Na F-1, mesmo equipes com orçamentos monumentais, como a Ferrari, não conseguem ganhar de times mais pobres que, por alguma razão, tenham sido mais competentes na hora de desenhar um carro.

É exatamente isso que estamos vendo neste ano. A Williams ganhar uma corrida “fair and square”, como fez em Barcelona, é algo para se celebrar. A austera Sauber cutucando os líderes, como fez nosso Chapolin Colorado na Malásia, é um negócio que não tem preço. Longa vida aos pequenos!
OK, entre os cinco ganhadores deste ano quatro são grandões e ricões, Ferrari, McLaren, Mercedes e Red Bull. Mas não é que neste cenário tão incomum até a vitória de Alonso em Sepang foi recebida com alegria? Afinal, a Ferrari, com toda sua grana, pompa e circunstância, começou o ano como coitadinha de novo. Há uma tendência de se torcer para o mais fraco de vez em quando, e a turma de Maranello, em 2012, está nesse time dos mais fracos. E, ainda assim, lidera o Mundial com Alonso. Não é demais? Os caras abrem o campeonato dizendo que nunca tiveram carro tão ruim e depois de cinco provas estão em primeiro!

Que venham, pois, mais resultados surpreendentes, pódios inesperados, que troféus sejam erguidos aos céus por mãos improváveis, que rolem lágrimas de incredulidade por rostos extasiados. Porque, no esporte, a alegria daquele que não está esperando vencer é sempre mais autêntica e real. Passa longe do enfado dos que estão habituados com as glórias, daqueles que já não têm mais medo de perder porque nem sabem qual é o sabor da derrota.

E, de carona nisso tudo, nessa esperança de ver algo raro que nos abra um sorriso na bandeira quadriculada, vem a consciência dos protagonistas de que, neste ano, qualquer mísero ponto vale ouro. Assim, brigas por sétimo, oitavo e nono serão encarniçadas até os últimos metros das últimas voltas de todas as corridas, estejam nessas lutas pilotos obscuros ou astros candidatos ao título.
O pacotão asa-móvel/pneu-farelo/restrições-técnicas deu muito certo, e ainda contou com o acaso de ninguém ter feito, neste ano, um carro espetacular, temível, imbatível. Está todo mundo arisco, sonhando com vitórias, tentando entender o que está acontecendo. Cenário ideal para o campeonato que, no fundo, a gente sempre sonhou. Ele está aí, diante de nossos olhos. Aproveitemos.

Fonte: Grande Prêmio

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Bjinhos,
Ana

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