quarta-feira, 24 de abril de 2013

"Nunca digo nunca para a F1, mas quero vencer no Endurance"

Deixo pra vocês a entrevista que o Bruno concedeu ao Grande Prêmio para a 37ª edição da revista Warm Up. Confesso que não consegui ler a entrevista, mas assim que tiver um tempinho, provavelmente à noite, eu leio e deixo minhas opiniões.
Enquanto isso, leiam, se divirtam, se informem e deixem suas opiniões nos comentários!

P.S.: Não postei as fotos porque o blogger simplesmente resolveu sacanear com a minha cara e, quando posto as fotos, a postagem fica "toda errada". Já tive que mexer nela umas 5 vezes. Vamos ver se agora vai...rsrs

Beijinhos,
Ana


*****

"Olhando para trás, é fácil você perceber as coisas que poderiam ter sido feitas de forma diferente, mas diante de todas as situações, acho que a gente fez o melhor possível dentro daquilo que poderíamos fazer. Com certeza, eu tentei tudo que pude”.

A frase é de Bruno Senna, piloto que fez três temporadas na F1, tem 46 GPs no currículo e um sexto lugar como melhor resultado na curta carreira no Mundial — GP da Malásia de 2012, pela Williams. Talvez pelo fato de ter um dos sobrenomes de maior respeito da história do principal campeonato de monopostos do mundo, sua saída da F1 foi sentida e não passou despercebida pelos mais críticos — embora tenha sido solenemente ignorada pela Globo, emissora oficial da categoria no Brasil e que ajudou a elevar o tio Ayrton ao status de semideus. 

O próprio Bruno, aos 29 anos, admite que sua presença no grid era, inevitavelmente, vista com outros olhos. “Sempre teve uma enorme expectativa sobre mim, e isso dentro e fora do automobilismo. Com certeza, sempre fui julgado com parâmetros diferentes na comparação com a maioria dos outros pilotos. Então, não tem nem o que discutir.” 


Bruno Lalli Senna, filho da irmã mais velha de Ayrton, Viviane, realmente viveu uma história diferente no esporte. Depois de dar seus primeiros passos no kart e interromper a carreira por conta da morte do tio, o piloto reiniciou sua carreira de forma tardia, aos 21 anos ― idade em que a maioria já está praticamente às portas da F1 ―, acelerando etapas e ficando exposto a julgamentos muito mais severos. Antes de alcançar o cockpit da fraca Hispania e estrear oficialmente na F1 em 2010, Bruno debutou nos monopostos em 2004, competindo pela Carlin na versão britânica da F-BMW, ainda que de forma tímida. No ano seguinte, pulou para a F3 Inglesa, temporada em que terminou em décimo. E ainda participou do tradicionalismo GP de Macau em 2005. 


2006 foi um ano ainda mais movimentado. E de melhores resultados. Senna foi terceiro colocado na F3 Inglesa, competiu em quatro provas da F3 Australiana e ainda marcou presença em rodadas da Porsche Cup na Europa. A temporada seguinte marcaria o primeiro passo rumo à F1. Foi em 2007 que Bruno ingressou na GP2. Pela equipe Arden, de propriedade do hoje chefão da Red Bull, Christian Horner, o brasileiro conquistou sua primeira vitória, em Barcelona, na terceira etapa do campeonato. Para a temporada de 2008, Senna trocou a Arden pela iSport. E teve um ano promissor, com duas vitórias — em Mônaco e em Silverstone —, fechando o ano em segundo lugar, atrás de Giorgio Pantano. O desempenho credenciou o piloto para um teste com a Honda. Foi a primeira vez de Bruno com um carro de F1 e o início das negociações para finalmente alcançar o topo do automobilismo, em uma carreira de até então de quase seis anos.

Apesar da boa performance no teste ― ficou a 0s2 do melhor tempo de Jenson Button ―, o primeiro revés veio logo com a saída da montadora da F1, anunciado no início de dezembro. A estrutura da equipe japonesa, então, passou para as mãos de Ross Brawn, que acabou optando pela experiência de Rubens Barrichello para a segunda vaga do time para 2009, ano que o carro branco com poucos patrocínios conquistou a F1 de forma avassaladora com o Mundial de Construtores e também com o título de Button. 

Com o passo atrás da Honda, Bruno ficou sem lugar na elite do automobilismo e decidiu mudar a estratégia na corrida para a F1. Ao invés de tentar mais uma vez a GP2, o paulista optou pelo Endurance ― rota que voltou a seguir em 2013 ― e foi correr na Le Mans Series e nas 24 Horas de Le Mans em 2009 pela Oreca. Porém, o caminho de volta aos monopostos e à F1 foi retomado no fim daquele mesmo ano, na esteira das novas vagas abertas pela FIA para o Mundial. Esse caminho, entretanto, foi mais tumultuado que o imaginado. 

Senna decidiu correr pela Campos, equipe montada para o Mundial pelo ex-piloto Adrián Campos. A apresentação do time aconteceu em 10 de novembro de 2009, na cidade espanhola de Múrcia. Mas o projeto de Campos miou antes mesmo do início do campeonato. Com sérias dificuldades financeiras, a escuderia acabou vendida para o empresário José Ramón Carabante e fez a estreia na F1 como Hispania. Estava dado aí o primeiro passo de Bruno na maior das categorias do automobilismo. 

Protagonista da seção Grandes Entrevistas da Revista WARM UP deste mês, Bruno agora entende essa “F1 mais corporativa” e de poucos amigos, onde a “ligação com as pessoas certas” é a chave para permanecer mais tempo no esporte. Mas o brasileiro não se arrepende de nada e afirma que o que mudou no piloto que estreou em 2010 foi a aquisição de experiência.


"Acho que adquiri experiência. E não só como piloto, mas também no automobilismo em geral. Definitivamente, muitas coisas aconteceram. E agora eu tomo as decisões com outras coisas na cabeça. Com mais segurança, pensando mais no futuro"


A chance com a Honda


Não, não há arrependimentos. Acho que nada do que estava em minhas mãos eu poderia mudar ou mudaria. A gente montou uma boa equipe de gerenciamento, e penso que fizemos um bom trabalho com as condições que tínhamos. A gente sofreu muito com relação à parte política da F1. Mas, olhando para trás, não tinha muito que fazer para mudar o que aconteceu ou que tinha de acontecer."

O início tardio no esporte também não é encarado por Bruno como um grande problema, mas pesou, especialmente no que diz respeito à bagagem, tanto de pista quanto do modus operandi da F1.

É claro que, com uma experiência melhor no automobilismo, você acaba tendo mais chances. Se eu tivesse começado um pouco mais jovem, talvez eu tivesse tido a chance de fazer uma carreira mais longa antes de entrar na F1, mas não sei se isso teria feito alguma diferença ou não." 

“Com certeza ter experiência sempre ajuda. Mas acho que o que mais mudaria é ter de passar por certas situações antes de chegar à F1. Entender um pouco melhor a cultura da F1 para talvez tentar tomar decisões diferentes ao longo do caminho. Mas são apenas suposições. Não sei se realmente as coisas teriam sido diferentes ou não.”

O primeiro embate com essa cultura da F1 veio já no primeiro contato com a categoria. Em 2008, Bruno teve a chance de testar pela Honda. O que começou como uma iniciativa produtiva terminou em frustração com a decisão da montadora de deixar o Mundial. 

“O teste foi muito bom. A equipe ficou bem impressionada com o treino. No primeiro dia, eu fiquei bem próximo ao tempo do Jenson Button. Também tive boa consistência nas voltas em simulação de corrida. Após isso, a equipe queria fazer outro teste, algumas semanas depois em Jerez, mas neste meio tempo a montadora decidiu sair da F1.” 

“Esse teste poderia ter sido definitivo para eu poder correr com eles lá. Realmente, foi uma grande frustração, porque foi um carro que se mostrou muito competitivo no ano seguinte.”

Apesar da decepção com a possibilidade de ter tido um início de carreira bem diferente do que aconteceu em 2010, Senna não sabe dizer até que ponto o revés interferiu no andamento de suas ambições de alcançar a F1.

“Eu sempre procuro pensar no lado positivo das coisas. Eu poderia ter entrado em um carro que foi campeão na temporada de 2009 no meu primeiro ano, mas isso não quer dizer necessariamente que eu teria vencido corrida ou lutado pelo campeonato. São coisas que se você ficar pensando, não passam de perda de tempo.”

Mas quando, efetivamente, a chance de fechar com eles acabou? 

“Naquela hora, porque nos dois primeiros meses do ano, o time ficou resolvendo como ia fazer para alinhar no grid em 2009, e a última preocupação deles naquele momento era com os pilotos. E aí, quando eles viram que só iam ter um dia ou dois de testes, decidiram pegar um piloto com mais experiência, que foi o Rubinho (Barrichello), que também era a coisa mais lógica. E foi isso que aconteceu.”

E lá foi ele para a Le Mans Series.

Um ano depois, a nova oportunidade



Bruno teria de esperar quase um ano por uma nova oportunidade. E a chance surgiu na Espanha, em uma negociação com Adrián Campos. A estreia mesmo aconteceu já sob o nome Hispania, estrutura comandada por José Ramón Carabante. E desde o início a tumultuada equipe deu sinais de que não duraria muito tempo na F1, apesar dos investimentos posteriores — a escuderia foi vendida mais uma vez, antes de falir no fim do ano passado. Das mãos de Carabante — bastante afetado pela enorme crise financeira da Espanha —, o time passou para o Thesan Capital, também espanhol, em junho de 2011. Com o negócio, a esquadra ganhou nova denominação e passou a se chamar HRT, mas jamais conseguiu deixar o fundo do grid. 

“A Hispania foi uma equipe muito difícil de correr e não tinha a estrutura necessária para competir na F1. Então, foi um ano bem complicado, era uma equipe que estava em dificuldades.”

Mas a HRT estava mesmo fadada ao fracasso? 

“Antes de a equipe começar a ter os sérios problemas financeiros, era um time que tinha bom potencial, o carro não teve nenhum desenvolvimento durante o ano, mas chegou um momento que ficamos perto das outras duas, que tiveram evoluções ao longo da temporada. Por isso, eu acredito que, com a estrutura certa, com o orçamento correto, era uma equipe que tinha boa chance de pular para frente.”

“Mas quando a equipe começou a ter problemas financeiros, precisou ser comprada, teve de ser rearranjada em 2010, as coisas realmente se complicaram muito. E se tornou razoavelmente claro que a equipe iria sofrer, mas você nunca sabe o quanto vai sofrer até passar por essa experiência. Mas em 2011 a equipe foi muito melhor, em termos técnicos, de estrutura e até de dignidade, digamos assim, do que em 2010.”

E foi na HRT que Senna viveu o momento que considera o pior da passagem pela F1. 

“Para mim, foi não ter tido a chance de correr em Silverstone em 2010. Eu tive problemas com a equipe ali e perder a oportunidade de correr foi uma coisa que frustrou bastante.”

À mercê da sorte




Ao final de 2010, o sobrinho de Ayrton Senna se viu novamente atrás de um cockpit, mas como a posição de titular é artigo raro, o paulista teve de se contentar em integrar o quadro de reservas da Lotus Renault. Em um primeiro momento, a decisão parecia um passo atrás, mas acabou se revelando uma ótima oportunidade para tentar algo mais promissor no futuro. Isso porque a equipe atravessava um momento de transição. Depois do escândalo da batida proposital de Nelsinho Piquet no GP de Cingapura de 2008, a Renault havia decidido deixar a F1 como equipe e apenas operar como fornecedora de motor. O time, então, ganhou a tutela do grupo de investimentos e consultoria Genii Capital, parceiro da marca Lotus. Foi em meio a esse grande negócio que Bruno conseguiu uma vaga na esquadra, que tinha como titulares no início de 2011 Robert Kubica e o endinheirado Vitaly Petrov. 




Mas a sorte não estava ao lado da equipe no começo do ano. Ainda durante a fase de pré-temporada, o polonês se envolveu em grave acidente, quando disputava uma prova de rali na Itália. Kubica, que ainda se recupera das sequelas deixadas pela forte batida, perdeu aquela temporada da F1, e a equipe chamou o experiente Nick Heidfeld para seu lugar. Mas a relação entre o alemão e o time não foi das melhores, e o piloto acabou deixando a equipe logo após o intervalo das férias de verão na Europa. E aí foi que a esquadra comandada por Eric Boullier decidiu — com ajuda dos patrocínios, também — colocar Bruno como titular. 


Em 2011, a equipe era muito melhor estruturada, com melhor chance de ter uma carreira mais longa. Na época, o carro não era o mais competitivo de todos, mas, às vezes, era fácil de ter boas performances, especialmente em classificação. A equipe, entretanto, estava no meio de uma mudança, de uma transição, mas acabou sendo um time que me deu chance de mostrar um pouco do meu potencial, mas foi uma oportunidade limitada.

O acordo com a Williams surgiu após essa meia temporada com a Lotus Renault. 

“A Williams era uma equipe que estava em um ano muito bom. Eles realmente conseguiram acertar todos os recursos naquele ano, melhorou muito o carro de 2011 para 2012, que foi fantástico.”

“É uma equipe que tem pessoas muito talentosas, mas é um time que possui recursos bem limitados, mas que geralmente faz bom uso dos recursos que possui. De qualquer forma, acho que tivemos um grande desempenho, considerando a diferença de recursos que o time possui na comparação com os demais.”


                                “Sempre tive conversas com a Caterham.
                                 Tive chance de assinar com eles em 2011”


As dificuldades na Williams


De fato, a temporada 2012 foi a primeira completa de Senna na F1, mas não menos difícil que as anteriores. Além de levar pesados patrocínios para o time inglês, Bruno ainda teve de concordar em ceder o carro em 15 primeiros treinos livres de sexta-feira ao novato finlandês Valtteri Bottas, que tem como empresário Toto Wolff, então diretor-executivo e acionista na esquadra de Grove. O impacto da perda de tempo de pista, ainda segundo o brasileiro, foi refletida na performance ao longo do ano. Ainda assim, o piloto de 29 anos diz que sempre teve bom contato com Wolff. 

"A relação com o Toto sempre foi muito boa. É um cara inteligente, é mais do que somente a F1, ele é um apaixonado por automobilismo, então a gente sempre teve boas conversas. Mas não precisa ser um gênio para perceber que o Toto, sendo empresário do Valtteri, tinha sempre a intenção de colocá-lo na F1, por um caminho ou por outro. E acabou encontrando a oportunidade certa para isso por meio da Williams.”

No início deste ano, Wolff deixou a Williams e foi assumir um cargo também diretivo na Mercedes. Senna, entretanto, não soube dizer se o movimento tivesse acontecido antes, suas chances de permanecer na equipe teriam sido maiores. 

“No final das contas, o Toto estava muito envolvido na equipe, ele estava tomando decisões, e etc...”

Senna completou o campeonato do ano passado na 16ª posição, com 31 pontos. Com a ameaça constante de Bottas e a ligação mais sólida de Pastor Maldonado por meio do forte patrocínio da PDVSA, Bruno ficou a pé. E quando foi informado de que não estaria na Williams em 2013? 

“Foi algumas semanas depois do GP do Brasil que a gente ficou sabendo oficialmente. Tinha tido alguma discussão, a gente estava na briga lá e eu sabia que a chance do Bottas estar na Williams era grande.”

Apesar da notícia tardia sobre a não permanência, a equipe inglesa já havia inscrito o finlandês junto à FIA no dia 29 de outubro. Senna alegou não saber da manobra do time. 

“A equipe também precisa fazer todos os procedimentos da FIA. Eu não sabia da inscrição.”

Uma vez fora do time de Frank Williams, o paulista reiniciou as negociações para assegurar um lugar para esta temporada. E a vaga mais atraente era a da Force India, que havia perdido Nico Hülkenberg para a Sauber. 

“A gente teve uma boa chance de fechar com a Force India. As conversas começaram razoavelmente cedo e as coisas estavam tomando um caminho bom. Mas quando foi final de dezembro, início de janeiro, as coisas viraram para um lado diferente, um lado estranho, e aí começou a ficar mais difícil. Enfim, as coisas começaram de uma maneira muito boa, mas acho que por algumas mudanças internas na equipe, as chances foram diminuindo e eles acabaram fechando com o (Adrian) Sutil.”

Além do cockpit da Force India, outras duas equipes do grid também estavam com lugares vagos: Caterham e Marussia. A primeira era opção, mas não era prioridade. 

“Eu já vi como é andar nas equipes pequenas, tive a experiência em 2010, basta ver também que muito dos pilotos que estão lá, ou os que estão entrando, na maioria dos casos, vão acabar ficando por lá mesmo”, diz. “Tinha a vaga na Marussia, que o próprio Razia estava negociando, mas era a mesma filosofia que eu tinha com a Caterham.”

Sem o menor pudor de sempre optar por pilotos pagantes, a equipe malaia, na verdade, nunca deixou de manter contato com Bruno. 

“Para 2012, eu tive uma chance de fechar com eles, mas acabou não acontecendo. De qualquer forma, a gente estava mais interessado em fechar com a Williams. Na verdade, tive, sim, uma chance de assinar com a Caterham em 2011. Sempre tive conversas com a Caterham. Talvez se tivéssemos andado o ano inteiro em 2011, teria tido uma boa chance de ir em frente com a equipe.”

Aproveitando o ensejo sobre as negociações, é possível dizer que as conversas de bastidores sempre serviram para fundamentar só rumores e especulações de paddock. Por isso, não raro o ambiente na F1 é descrito como ‘ninho de cobras’. Os próprios relatos de Bruno comprovam de certa forma esse cenário. Muita gente que lida com Bruno afirma que o piloto é ‘bonzinho’ demais pra F1, no sentido de ser ingênuo, de não ter malícia. E aí vem a pergunta, a F1 é um meio “maldito”? 

“Tem muitas coisas que rolam pelos bastidores que muitas vezes você precisa saber para ficar por lá. Não é uma questão de você ser bonzinho ou não ser bonzinho, não é isso que faz a diferença, mas a questão é que você precisa estar conectado, ligado às pessoas certas, do jeito certo.”

“São as oportunidades que você tem na F1, por onde você entra, como você entra é que fazem a diferença. É fácil de dizer que um piloto como o (Sebastian) Vettel, que vence com frequência, como na corrida da Malásia, que foi bem polêmico. Mas aquilo ali foi na pista, e isso não tem muito a ver com a situação fora.”

Dentro deste ponto de vista, Senna entende que a F1 não mudou muito desde a época de seu tio, apenas tornou-se mais corporativa. Mas o peso da política está lá.

“A F1 ficou mais corporativa do que era naquela dele. Agora, em termos de política e na maneira como opera, não mudou tanto assim. Você pode achar que hoje se tem uma F1 um pouco menos política, mas, na verdade, as coisas não mudaram tanto assim. E são lições que a gente aprende realmente com a experiência.”


                        “É preciso ter a oportunidade certa para voltar à F1”



A hora de tomar um rumo diferente


Senna ficou sem lugar na F1 depois da contratação de Bottas pela Williams e do fim prematuro das conversas com a Force India. A mudança de ares se fez necessária novamente. E, mais uma vez, recorreu ao endurance para se manter na profissão. 

“Eu busco por vitórias na minha carreira, eu busco realizações, e estar na F1 apenas por estar na F1 não é uma coisa que tenho muito interesse. É claro que, para você ter uma oportunidade na F1, é preciso também estar lá, mas com o tempo, você precisa tomar a decisão de que é hora de tirar o pé e tentar outras coisas. E foi essa a decisão que a gente tomou.”

Bruno, então, escolheu apostar no projeto da Aston Martin no Mundial de Endurance para 2013. Porém, antes de entrar de cabeça nas corridas de longa duração, o brasileiro faz uma avaliação realista de sua passagem pela F1 e não descarta, claro, um eventual retorno, embora não encare isso como prioridade máxima. 

“Eu nunca digo nunca para a F1. Mas por enquanto o plano é fazer carreira, fazer as coisas acontecerem onde estou e ver quais são as melhores oportunidades fora da F1.”

“Acho que sempre tive potencial. 2011, para falar a verdade, foi um pouco de golpe de sorte. Eu entrei na Lotus como reserva e acabei tendo a oportunidade de sentar no carro em condições muito especiais, então realmente é difícil dizer onde eu estaria se fosse uma questão normal. De 2011 para 2012 foi onde eu consegui mostrar potencial na classificação e consegui mostrar bom ritmo em algumas corridas, e acho que isso foi o que acabou me dando a chance de correr na Williams no ano passado. Foi um passo muito importante. E obviamente eu também tive condições de levar bons patrocinadores tanto para a Lotus quanto para a Williams, que eram equipes de grande competitividade.”

E que nota se dá para pela atuação na F1? 

“Obviamente eu sou muito crítico comigo mesmo, mas é difícil se dar uma nota. Eu tive momentos de muito boa performance nestes últimos anos, tive corridas muito, muito boas e muitas vezes em condições complicadas. No ano passado, a perda dos treinos em um ano extremamente competitivo me frustrou muito e acabou me colocando em situações difíceis, até comigo mesmo, porque ficava frustrado com resultados da classificação, e isso me prejudicou um pouco.”

“2011 foi uma aventura enorme. Com certeza, todo o carro que demonstra boa performance na classificação te deixa satisfeito, mas as situações em corrida acabaram complicando bastante, coisas com acerto e etc.. 2010 foi uma época que eu sobrevivi. Então, não tem como ter uma avaliação, uma nota. Porque não dava para saber se estávamos atrás ou na frente, porque o carro estava inteiro ou faltando pedaço, ou se era porque eu estava muito bem ou muito mal naquele final de semana. Por isso, 2010 foi um ano que era mais questão de sobreviver. Eu acho que, nestes últimos anos, eu aprendi bastante e melhorei bastante e tudo que posso dizer é que eu fiz o máximo que eu pude.”

A receita para voltar à F1 segue um ingrediente básico: ter a oportunidade certa.

“Já vi que, para ter chance na F1, é preciso falar com as pessoas certas ali no meio e ter a chance de mostrar o potencial, para ter a possibilidade de fazer uma carreira longa na F1. As chances que eu tive sempre foram muito limitadas, mesmo no ano passado, perdendo treinos em um campeonato supercompetitivo, e isso foi algo que me prejudicou bastante.”

Agora que está fora F1, Senna percebe que existe uma vida. 

“Eu tenho mais tempo também para ficar em casa, descansar e tenho bem menos viagens. Então, realmente mudou bastante a vida neste sentido, embora eu tenha passado o último mês fora por conta da corrida em Sebring. De qualquer forma, eu tenho mais tempo para mim. A vida também está um pouco mais tranquila, sem pressão.”


“Seria bem interessante uma equipe com Senna, Piquet e Fittipaldi correndo no mesmo carro”


De fato, a vida fora da F1 também não é das mais problemáticas para Bruno. Uma vez distante do grid, Senna foi buscar forças no Endurance, por meio de um acordo com a Aston Martin, para competir principalmente no Mundial. 

“Nós estávamos procurando outras opções para correr. E é como falei, o nosso objetivo é vencer e, no ano passado, a Aston Martin terminou o campeonato de maneira muito forte, ganhando corrida e terminando em segundo na temporada.”

“Neste ano, a gente foi falar com eles, vimos que o projeto estava muito bom, então percebi a oportunidade e o potencial de uma equipe vencedora. E esse foi o grande motivo pelo qual eu os escolhi. Eles me deram também a chance de correr sem se comprometer com patrocínio, nem nada. E sou muito grato pelos patrocinadores continuarem comigo, continuarem investindo, como a Gillette e Head & Shoulders. E esses foram os fatores que decidiram também. Estou bem contente.”

Bruno já faz planos e tem grandes ambições. 

“A P1 é a F1 do Endurance, por isso seria interessante ter uma chance na P1, mas precisa ser o lugar certo, precisa ser em uma equipe como a Audi, como a Toyota ou com um potencial como o da Porsche no ano que vem, quando eles entrarem.”

O Endurance já é uma opção de carreira. Senna sabe que pode construir um logo caminho neste tipo de competição, por isso não quer ficar parado. 

“Estamos olhando as oportunidades. Mesmo no Endurance, mas fora do WEC... Corridas de protótipos nos EUA, também outras corridas de GT. As oportunidades são sempre abertas.” 

“Eu estou em contato com Nelsinho (Piquet) como forma de saber o que aparece por aí de oportunidade. Esse ano acabou ficando um pouco em cima, então não consegui os contatos certos, mas ano que vem a gente vai, com certeza, dar uma olhada em tudo. Agora seria bem interessante uma equipe com Senna, Piquet e Fittipaldi correndo no mesmo carro.”

O Brasil também é um plano para o piloto, que trabalha para popularizar as corridas de longa duração, que já foram a essência do automobilismo nacional. Sua grande chance para alcançar o objetivo será com a realização das 6 Horas de São Paulo, em Interlagos. 

“Como a cultura no Brasil com relação ao automobilismo é limitado à F1 e à Stock, poucas pessoas conhecem o Endurance, e eu acho que podemos fazer um trabalho bem forte no diz respeito a esse tipo de competição no Brasil”.

“Apesar da prova do WEC já ter sido realizada em Interlagos, fora antigas as corridas de Mil Milhas, o conhecimento ainda é limitado à F1, então será importante fazer um trabalho de reconhecimento. E ver se o pessoal começa a gostar de carro, como Aston Martin, Ferrari, Porsche, Corvette e etc.”

O brasileiro ressalta as diferenças nas dinâmicas de corrida de cada categoria e promove uma comparação interessante. 

“Acho importante salientar também que a competição no Endurance é muito, muito forte. São pilotos que possuem muita experiência, principalmente nas equipes tops, e que já estão habituados a esse tipo de corrida, que é muito diferente da F1. Não é uma questão de ser o piloto mais rápido do mundo, mas de ser o melhor que lida com tráfego, estratégia, decisões de acerto de carro, e esse ano provavelmente será o ano mais competitivo da história do Endurance, especialmente na classe GT, que tem grandes fabricantes, como Aston Martin, Ferrari, Lamborghini, Corvette, Viper, BMW. De qualquer forma, são mais de 20 carros com chance de ganhar corrida, e isso é importante salientar, porque é uma competição duríssima. Por isso, é uma categoria que não deve nada para a F1.”



                 “Eu não tenho interesse em correr em ovais de monoposto.
                                         É uma questão de segurança”


Outras opções?


Senna deixa claro que são os carros de turismo que o agradam e, fora os monopostos da F1, vê chance apenas na Indy, mas “não em ovais”. Os famosos circuitos norte-americanos não seduzem o paulista dentro de carros de fórmula. “Não poderia fazer isso com a minha família”. 

“Até existe a chance de correr na Indy, mas sem ser em oval. Eu não tenho interesse em correr em ovais de monoposto. É uma questão de segurança. É um tipo de corrida que você precisa ter muita experiência. Com o tipo de acidente que tem com o pessoal lá, eu não sinto que a segurança seja adequada. Já morreu uma pessoa lá recentemente, e não posso impor esse tipo de risco para a minha família.”

Já a Nascar é vista com outros olhos. 

“Em oval existe até uma possibilidade, não é o mesmo bloqueio do que correr em monoposto.”

O DTM, o campeonato alemão de turismo, surgiu brevemente em forma de dois testes. A iniciativa não vingou. 

"
Na verdade, eu tive dois testes com o DTM. Eu andei em 2009, no começo do ano, que foi um teste ótimo lá em Hockenheim. E agora tive um teste em 2012 na pista do Estoril. Foi um treino em que o tempo esteve horrível, choveu bastante e acabou que não foi um teste muito relevante em termos de performance. E no fim das contas, a Mercedes estava mais interessada em fechar com pilotos mais novatos.”


Ao fim e ao cabo, são nas corridas de longa duração que Senna se vê e deseja solidificar a continuação de sua carreira. 

"
Para mim, é uma opção de carreira. Com certeza, se eu tiver a chance de correr no WEC de forma legal e tudo mais, é uma opção para o futuro. E sou muito grato pela chance.”


“O Endurance é onde os pilotos têm a chance de ter uma carreira mais longa. Uma boa parte dos pilotos já tem uma idade mais avançada na comparação com a F1 e com outras categorias de monopostos em geral. Mas o Endurance é onde os fabricantes estão, é onde existe o interesse, porque é onde também as tecnologias desenvolvidas são mais aplicáveis aos carros de rua. É uma categoria onde se tem mais oportunidades profissionais para pilotos que não estão na F1.”

O tio, as comparações e a vida


Menos pelas proezas na pista — que foram muitas e inacreditáveis —, mas principalmente devido ao enorme carisma e à morte trágica, Ayrton Senna ganhou status de herói no Brasil. Virou um ícone intocável no imaginário dos torcedores e dos não torcedores também, que é difícil muitas vezes separar o piloto da imagem que se criou dele. Por isso, a vida de Bruno sempre foi pautada pela carreira do tio. Assim como as críticas, que vieram no mesmo peso do nome famoso. E isso ultrapassou fronteiras. 

“O fato de ser sobrinho do Ayrton trouxe a questão de que as pessoas esperaram sempre um algo a mais de mim, mesmo sem necessariamente ter tido também as oportunidades certas”, conta. Mas o parentesco também tem seu lado positivo. “Sempre ajudou ser sobrinho do Ayrton, sempre tive muito orgulho de ser parente dele, até hoje ele é a minha grande referência. É um espelho para a minha carreira. Além disso, por essa ligação também tive chance de ter grandes patrocinadores, coisa que não é fácil, não são oportunidades que todo mundo têm.”

“E, com certeza isso, me deu a chance de competir sem impor um grande fardo na minha família em termos financeiros. Mas quando eu cheguei à porta da F1, onde não era uma questão de sentar em um carro como outros estavam fazendo, testar e mostrar o de que sou capaz de fazer, foi mais difícil demonstrar aquilo que eu posso fazer, principalmente porque hoje as oportunidades são mais fracionadas, limitadas. Então, seria mais difícil fazer isso se fosse uma situação mais neutra, como havia sido nas categorias de base. Mas é a minha história no automobilismo é essa. E eu sempre tive de lidar com isso.”

Fonte: Grande Prêmio/Revista Warm Up


*****

Nenhum comentário: