Repórter do Terra sente a emoção de correr em alta velocidade ao lado de Bruno Senna
"Depois de passar por essa experiência, todo o resto fica meio blasé".
A frase é de Bruno Senna, mas poderia ser minha. Ele soltou esse
comentário de forma despretensiosa, fora das entrevistas, mas resumiu
meu dia: depois de pilotar um Aston Martin, é possível entender porque
um piloto fica tão viciado em corridas. Medo, impacto, calor excessivo,
desconforto, estranheza e até alguma humilhação - tudo isso foi
vivenciado por mim nesta quinta-feira em Warwick, região a 2 horas de
Londres, no Reino Unido. Mas a adrenalina compensou qualquer problema
rapidamente - a 200 km/h.
A ideal inicial era tranquila: pegar carona com Bruno
Senna no Aston Martin que simula seu carro no Mundial de Endurace. A
pista era de testes, mas as voltas também foram: "vou ver agora
sem tração traseira", avisou o Bruno. "Isso é melhor ou pior?",
perguntei. "Não sei, vamos ver agora", respondeu. Eu tinha pedido "com
emoção", não "com medo". Não adiantou.
Era impossível não tomar alguns sustos: a placa dizia
"freie", mas Bruno só freava muitos metros depois. E então vinha o
impacto - o cinto segurava tudo, é claro, menos a tensão, que aumentou
quando o pneu "cantou" na curva. "Liga a tração, Bruno!".
Em uma "chicane" montada na pista, parecia improvável
escapar sem derrubar os cones. Mas Bruno conseguiu. Só o que caiu foi
meu medo - a partir deste momento, era possível confiar que toda volta
teria mais diversão do que sustos. E muito mais calor: é verão na
Inglaterra, o macacão é quente, e o carro, fechado, mais ainda. Existe
ar condicionado, mas pouco alivia. "Como um piloto pode aguentar isso
por quatro, seis ou nove horas?", pensei.
Não foi por várias horas, mas também tive minha chance
de pilotar o Aston Martin. Desta vez era o carro esportivo, feito para
as ruas e para pessoas que recebem meu salário multiplicado por 100. Mas
eu estava lá, com o carro na mão e não poderia perder a oportunidade.
Era a chance de observarem meu talento e me contratarem para a equipe.
Por que não?!
Não deu certo: freada tardia, dificuldade para passar a
marcha com o lado inverso (mão inglesa) e erros nas entradas das curvas
deixaram o instrutor que estava comigo com medo. Resolvi piorar. "Agora
ele vai ficar bravo". Acelerei: cheguei a quase 200 km/h na curva e
demorei mais para frear. Enfim, me senti como um piloto. Mas era muita
confiança para pouca técnica e então minha diversão acabou. "Não vá para
outra volta, por favor", pediu o instrutor.
A experiência foi além e inavdiu outros terrenos:
primeiro a lama com o jipe e depois uma pista escorregadia com um carro
menor. Eu invadi a primeira com cuidado. Vi um carro atolar, outro quase
capotar, mas consegui escapar ileso. Depois veio a chance de arriscar
manobras: em um trecho que simula a pilotagem no gelo, suei frio para
acertar alguma manobra. E não consegui. Só me recuperei da "humilhação"
quando vi Bruno Senna fracassar na tentativa de acertar um giro de 360
graus.
E então veio o momento mais difícil: parar de "brincar".
O vício pela adrenalina já estava forte e insisti para dar mais algumas
voltas no Aston Martin, dessa vez com câmbio automático. Foi mais
fácil, é claro, mas o importante era matar a vontade de fazer algo que
provavelmente nunca mais farei. Para mim só vai sobrar o humilde Palio
que está na minha garagem. E a certeza que o Bruno estava certo: depois
de viver tudo isso, agora o mundo inteiro está mais devagar.
O repórter viajou a convite da Gillette
O repórter viajou a convite da Gillette
Fonte: Terra
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